Se você acompanha o setor cafeeiro do Brasil mais perto sabe que o país mantém sua tradição e de geração em geração, os campos são tomados pelas famílias que há décadas sobrevivem da atividade. Mas, você também já deve ter ouvido falar das histórias de quem "caiu de paraquedas" nesse universo e decidiu, a partir dali, escrever uma nova história na própria trajetória.
O Entrelinhas de hoje vai contar uma dessas histórias. Fomos pessoalmente conhecer a região do Vale do Grama, a 154 quilômetros de Campinas, passamos um dia conhecendo de perto algumas das histórias que fazem a cafeicultura da região acontecer.
Duas horas de viagens para chegar aos cafezais que ficam situados em uma espécie de planalto entre duas cadeias de montanhas da Serra da Mantiqueira. São Sebastião da Grama faz parte de uma região vulcânica, área conhecida pela potencialidade na produção de cafés especiais.
Quanto à qualidade da bebida, Valdir Duarte - produtor de café que abriu as portas da propriedade para nossa equipe, não faz rodeios: "O nosso solo faz tudo. Temos altitude e o produtor precisa ter o cuidado no pós colheita para não perder aquilo que recebe pronto", disse entre uma rua e outra nas montanhas do Vale.
A história de Valdir, no entanto, é uma dessas que começam por acaso com a cafeicultura. Formado em tecnologia da informação e com carreira sólida na área, foi através da família da esposa, a Lourdes (em memória) que ele conheceu mais de perto a produção cafeeira.
Ele conta que a família chegou na região antes mesmo do município ser denominado como São Sebastião da Grama, quando o bisavô da esposa - Fortunato Bernarde, chegou da Itália no Brasil, construiu um casarão e uma casa para cada filho, nos anos de 1900. "Já existiam propriedades desde 1871 no Vale. Assim seguiu e o avô da minha esposa ficou com a parte da fazenda Santo Antônio, mantendo a produção de café", comenta.
Entre conhecer a esposa e o café, Valdir passou aos poucos a ajudar a família na administração da fazenda, ainda distante das atividades do campo. "Mas como eu nasci na roça (em Presidente Prudente/SP), eu já tenho por família aquele amor pela terra, mas lá era terra do amendoim e do algodão e aqui eu vi o mundo do café. E comecei a comprar algumas propriedades de algumas tias da minha esposa e comecei a tocar os cafés. Até que chegou o momento em que me aposentei e vim para cá, já era uma terra que eu amava", conta.
Junto com a esposa, que nasceu na cidade, mas que foi para São Paulo para estudar e conhecer Valdir, eles começaram a olhar os cafés de forma diferenciada. Nos anos 2000 nasceu a Associação do Vale da Grama - que inclusive ele é presidente atualmente, e a história dos cafés especiais começou a mudar.
"Comecei aprender como lidava com os cafés porque até então eu só administrava. Aprendi muito com meu cunhado que os métodos tradicionais e foi aprendendo. Aqui no Vale da Grama nós temos uma coisa que é muito importante para nós pequenos produtores que é o compartilhar de informação que nós temos", comenta.
Valdir conta que parcerias como o Senar e como o Sebrae foram cruciais para o avanço da produção de café na região. Já tem alguns anos que a produção na região se destaca em busca da qualidade e os resultados nos concursos resultaram no pedido de Indicação Geográfica, protocolada recentemente pelo Vale da Grama.
"O café tem mercado para todos. Desde o commoditie até os especiais. Tratatamos com carinho os micro-lotes e os demais também consideramos as questões de qualidade, mas esse entregamos no mercado local e nas cooperativas", complementa.
Enquanto aguarda o retorno do INPI, Valdir explica que os trabalhos continuam no sentido de explicar para a comunidade local a importância da IG e como o selo pode ajudar a alavancar os negócios da região. "O Café Vale da Grama passa a ser conhecimento nacionalmente e interncionalmente. Os produtores já fazem parte dessa IG, o que eles precisarão é seguir um caderno de especificação que vai determinar os padrões de qualidade para o Vale da Grama, o que não é díficil porque o solo já produz café especial, não podemos estragar o que o solo fez", acrescenta.
Fonte: Notícias Agrícolas